A Alta Crítica tem como objetivo analisar minuciosamente as obras literárias, expondo características que indicam que elas foram compostas por outros métodos e autores do que os tradicionalmente aceitos. A Bíblia foi alvo da Alta Crítica, que questionou a autoria de certos livros e concluiu que livros canônicos da Bíblia, como os livros de Moisés e Isaías, não haviam sido escritos pelos seus autores tradicionais, mas eram "retalho de manuscritos". Isso causou grande controvérsia na época e abriu caminho para o surgimento do liberalismo teológico, um movimento que relativizava a autoridade da Bíblia e a mesclava com a filosofia e as ciências da religião. De acordo com Raymond E. Brown em seu livro "Introdução ao Novo Testamento" (2008), a alta crítica é uma abordagem que busca "descobrir a história real dos livros, o contexto em que foram escritos, os autores e as circunstâncias em que foram compostos". Dessa forma, a alta crítica se preocupa em identificar os diversos autores, redatores e editores envolvidos na composição do texto sagrado, bem como em analisar as fontes e influências que podem ter moldado sua forma final.
O liberalismo teológico, segundo McGrath (1999), foi um movimento surgido no final do século XVIII que estendeu-se até o início do século XX, tendo como objetivo a adaptação da fé cristã aos ideais iluministas da época.
Através dessa perspectiva, a Bíblia foi vista como um livro histórico, sujeito a interpretações humanas e falhas, ao invés de ser vista como uma obra divina inspirada. Esse conceito é ilustrado por Brown (2007), que descreve como o liberalismo teológico via a Bíblia como "um produto humano, que contém a história da religião, mas que não é a religião em si mesma" (p. 51).
Essa abordagem liberal esvaziou a Bíblia de seus atributos divinos, o que foi prejudicial para a formação de líderes e jovens cristãos que buscavam uma instrução genuína. Conforme destacado por Erickson (1983), "o liberalismo teológico [...] efetivamente reduziu a autoridade da Escritura a um nível mínimo" (p. 387).
Essa visão reducionista da Bíblia, adotada pelo liberalismo teológico, não só prejudicou a compreensão e a prática da fé cristã, mas também gerou uma série de críticas e debates dentro da própria comunidade cristã. Como bem pontuado por Grenz (1994), "o liberalismo teológico desencadeou um novo debate acerca do lugar da razão e da experiência na teologia cristã" (p. 106).
A Baixa Crítica, por sua vez, busca restaurar o texto original e garantir a integridade do texto bíblico. Para isso, a crítica textual é uma disciplina importante que exige que o exegeta tenha conhecimento das línguas em que a Bíblia foi redigida, além de informações sobre os manuscritos, versões, obras antigas e as tendências dos escribas. A crítica textual compara as divergências nas cópias e manuscritos existentes de uma obra para tentar descobrir e/ou restaurar qual é a sua forma textual mais antiga, isto é, o texto mais próximo ao original. É o que aponta Umberto Eco em seu livro "Os Limites da Interpretação" (1992), "não se preocupa em estabelecer a autoria, a data ou a proveniência do texto". Em vez disso, ela se concentra na análise do próprio texto, buscando extrair dele significados e interpretações possíveis.
Em resumo, a Crítica Bíblica é importante para a
interpretação da Palavra de Deus, lançando luz sobre as Escrituras. Ela é uma
disciplina que exige um estudo cuidadoso e uma compreensão profunda das línguas
e das culturas nas quais os textos foram escritos. Como afirmou Norman Geisler,
"a crítica textual é uma disciplina que exige a máxima habilidade em lidar
com todas as informações relevantes e a máxima sensibilidade na avaliação dos
julgamentos dos estudiosos".
Referências:
BROWN, Raymond E. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 2008.
ECO, Umberto. Os Limites da Interpretação. São Paulo: Perspectiva, 1992.
McGrath, A. E. (1999). Historical theology: An introduction to the history of Christian thought. Wiley-Blackwell.
Brown, C. (2007). Christianity and Western thought: A history of philosophers, ideas and movements. InterVarsity Press.
Erickson, M. J. (1983). Christian theology. Baker Book House.
Grenz, S. J. (1994). Twentieth-century theology: God and the world in a transitional age. InterVarsity Press.
https://medium.com/reformados/a-hist%C3%B3ria-da-alta-cr%C3%ADtica-cf1b1da51d40
Comentários
Será que eu poderia usar o seu estudo
No meu blog
O Minuto Final
Achei ele muito esclarecedor.