O TERMO
PAI
O
termo “Pai” era atribuído pelos fiéis aos mestres e bispos da Igreja Primitiva.
Isso devido à reverência e amor que muitos cristãos tinham pelos
seus líderes religiosos dos primeiros séculos. Eram também assim chamados por
seu amor e zelo que tinham pela igreja. Mais tarde, o termo é
atribuído particularmente aos bispos do concílio de Nicéia, e posteriormente
Gregório VII reivindicou com exclusividade o termo “papa”, ou seja, "pai
dos pais”.
Com
a morte do último apóstolo, João em Éfeso, termina a era apostólica, porém Deus
já havia capacitado homens para cuidar de sua Igreja, e começou uma nova era
para o cristianismo. Assim, a obra que os apóstolos receberam do Senhor Jesus e
a desenvolveram tão arduamente acha-se agora nas mãos de novos líderes que
tinham a incumbência de desenvolver a vida litúrgica da Igreja como fizeram os
apóstolos.
Para
três indivíduos – Clemente de Roma, Inácio e Policarpo – esta titulação é
regularmente aplicada. Principalmente Policarpo, para o qual existem evidências
de contato direto com os apóstolos.
E
é de suma importância analisar a doutrina dos chamados “Pais da igreja”, pois
eles foram os responsáveis pelo povo de Deus daquela época e pela teologia que
construíram, sendo que até hoje serve de base para a Igreja. Do século II até o
século IV, nomes como o de Clemente de Roma, Clemente de Alexandria, Inácio de
Antioquia, Policarpo, Justino o mártir, Irineu de Lião, Origines, Tertuliano e
outros, que foram os responsáveis por transmitir os ensinamentos bíblicos,
merecem não pouco reconhecimento por sua fé, virtude e zelo que nutriam pelo
corpo de Cristo na terra – a Igreja.
Entretanto,
devemos lembrar que mesmo homens como esses não ficaram isentos de erros e até
mesmo foram considerados como heréticos por seus resvalos teológicos. Esse foi
o caso de Orígenes, por exemplo, que teve muitos de seus ensinos condenados
pelo II concílio de Constantinopla em 553.
A
maior parte dessas obras foram escritas em grego e latim, embora haja também
muitos escritos doutrinários em aramaico e outras línguas orientais.
Patrística é o corpo doutrinário que se
constituiu com a colaboração dos primeiros pais da igreja, veiculado em toda a
literatura cristã produzida entre os séculos II e VIII, exceto o Novo
Testamento.
Em
meados do século II, os cristãos passaram a escrever para justificar sua
obediência ao Império Romano e combater as ideias gnósticas, que consideravam
heréticas. Os principais autores desse período foram Justino – o mártir,
professor cristão condenado à morte em Roma por volta do ano 165; Taciano,
inimigo da filosofia; Atenágoras; e Teófilo de Antioquia.
No
século III floresceu Orígenes, que elaborou o primeiro tratado coerente sobre
as principais doutrinas da teologia cristã e escreveu Contra Celsum e Sobre os
princípios; Clemente de Alexandria, que em sua Stromata expôs a tese segundo a
qual a filosofia era boa porque consentida por Deus; e Tertuliano de Cartago.
A
partir do Concílio de Nicéia, realizado no ano 325, o cristianismo deixou de
ser a crença de uma minoria perseguida para se transformar em religião oficial
do Império Romano. Nesse período, o principal autor foi Eusébio de Cesaréia.
Dentre os últimos gregos destacaram-se, no século IV, Gregório Nazianzeno,
Gregório de Nissa e João Damasceno.
Os
maiores nomes da patrística latina foram Ambrósio, Jerônimo (tradutor da Bíblia
para o latim) e Agostinho, este considerado o mais importante filósofo em toda
a patrística. Além de sistematizar as doutrinas fundamentais do cristianismo,
desenvolveu as teses que constituíram a base da filosofia cristã durante muitos
séculos.
Para
uma melhor compreensão, podemos dividir os Pais da Igreja em quatro grandes
grupos, a saber: Pais Apostólicos, Apologistas, Polemistas e Pós-Nicenos.
Alguns deles, porém, encaixam-se em mais de um desses grupos devido à vasta
literatura que produziram para a edificação e defesa do cristianismo, como é o
caso de Tertuliano, considerado o pai da teologia latina.
Sendo
assim, temos:
PAIS
APOSTÓLICOS
Foram
os mais antigos escritores cristãos fora do Novo Testamento. Eles tiveram
relação mais ou menos direta com os apóstolos e escreveram para a edificação da
Igreja, geralmente entre o primeiro e segundo século. Os mais importantes
foram:
CLEMENTE
DE ROMA (30-100 d.C.)
Clemente
era um cristão que gozava de grande autoridade entre seus contemporâneos.
Orígenes e Eusébio de Cesáreia identificam-no como o colaborador de Paulo
mencionado em Filipenses: “E peço também a ti, meu verdadeiro companheiro, que
ajudes essas mulheres que trabalharam comigo no evangelho, e com Clemente, e
com os outros cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida” (Filipenses
4.3). Irineu de Lião escreveu que Clemente teria sido o terceiro sucessor do
apóstolo Pedro no pastorado da Igreja em Roma. Segundo Tertuliano, ele foi
consagrado pelas mãos do apóstolo Pedro. Escreveu uma Epístola chamada de 1º
Clemente, escrita de Roma por volta de 95 d.C., para a igreja em Corinto. A
obra Atos dos Mártires, do século IV ou V d.C., afirma que Clemente foi exilado
para a península de Queronese, na área do mar Negro, foi atirado ao mar com uma
âncora amarrada ao seu pescoço.
INÁCIO
DE ANTIOQUIA (35-108 d.C.)
Conforme
se encontra na História Eclesiástica, de Eusébio, Inácio teria sido o segundo
bispo de Antioquia: “Mas, depois que Evódio fora estabelecido o primeiro sobre
os antioquenos, Inácio o segundo, reinava no tempo do qual falamos”.
Foi
martirizado em Roma, durante o reinado de Trajano (97-117 d.C.). Inácio quando
seguiu para Roma estava disposto a ser martirizado, pois durante a viagem
escreveu cartas às igrejas manifestando o desejo de não perder a honra de
morrer por seu Senhor. Foi lançado às feras no Anfiteatro romano no ano 108.
Tudo
quanto sabemos sobre sua vida é através de suas sete cartas escritas no caminho
rumo ao martírio em Roma; Carta aos Efésios, Carta aos Romanos, Filadélfia,
Esmirna, Trálios, Magnésia e Policarpo. Inácio é o primeiro escritor a
apresentar claramente o padrão de ministério: um bispo numa igreja com seus
presbíteros e diáconos. Opôs-se às heresias gnósticas. Sua preocupação
principal era com a unidade da Igreja.
POLICARPO
(69-155 d.C.)
Foi
discípulo do apóstolo João, provavelmente nasceu em 70 d.C. Eusébio declara que
não somente foi instruído pelos apóstolos e conviveu com muitos que haviam
visto o Senhor, mas também foi instituído bispo da Ásia pelos apóstolos, na
Igreja de Esmirna. Aparentemente Policarpo conhecia alguns personagens ilustres
de sua época, como Inácio, Irineu, Aniceto de Roma e Marcião. Policarpo
resistiu a doutrina de Marcião e chamou-lhe de “primogênito de Satanás”. De
acordo com Irineu, Policarpo escreveu diversas cartas à comunidade e a bispos
em particular, das quais somente a carta aos Filipenses foi preservada.
Em
um dos seus escritos que trazem o seu nome é nos dada à narrativa de sua morte.
Devido a sua idade, quiseram fazê-lo negar o nome de Jesus e assim escapar com
vida, ao que ele respondeu: “Eu tenho servido a Cristo por 86 anos e Ele nunca
me fez nada de mal. Como posso blasfemar contra meu Rei que me salvou?”. Quando
o colocaram na fogueira, dizem que o fogo não o queimou, e então seus inimigos
o apunhalaram até a morte e depois o queimaram.
PAPIAS
(70-140 d.C.)
Bispo
de Hierápolis, de quem somente sabemos alguma coisa através de escritos de
Eusébio e Irineu. Ele era um homem curioso, que tinha o habito de inquirir
sobre as origens do cristianismo. Foi Papias quem iniciou a tradição que diz
que Marcos era interprete de Pedro: “Marcos, que foi interprete de Pedro, pôs
por escrito, ainda que não com ordem, o quanto recordava que o Senhor havia
feito”.
Segundo
Irineu de Lião, Papias teria sido discípulo do apóstolo João.
Escreveu
uma coleção de relatos sobre ditos e feitos do Senhor e de seus discípulos, da
qual restam somente pequenos fragmentos.
PAIS
APOLOGISTAS
Foram
aqueles que empregaram todas as suas habilidades literárias em defesa do
cristianismo perante a perseguição do Estado. Geralmente este grupo se situa no
segundo século, e os mais proeminentes entre eles foram:
TERTULIANO
(155-220 d.C.)
Nasceu
em Cartago, um dos principais centros culturais do Império Romano. Destinado
pela família ao estudo das leis, recebeu esmerada educação. Aos vinte anos
seguiu para Roma, onde ampliou sua formação. Regressou a Cartago no final do
século II e, depois de se converter ao cristianismo, dedicou-se ao estudo das
Escrituras, da literatura cristã e profana e dos tratados gnósticos. Iniciou
então uma produtiva atividade literária voltada para a consolidação da Igreja
no norte da África. Teólogo, foi o principal apologista da igreja ocidental e o
primeiro teólogo cristão a escrever em latim. Formado em direito, ensinou
oratória e advogou em Roma, onde se converteu ao cristianismo.
Possivelmente
as sua maiores contribuições foram suas discussões sobre a Trindade e a
Encarnação do Logos. A sua principal obra escrita em defesa do cristianismo foi
Apologética.
JUSTINO
MARTIR (100-166 d.C.)
Filho
de pais pagãos teria nascido perto da cidade de Siquém, onde passou boa parte
de sua juventude numa busca filosófica atrás da verdade. Ele foi um filósofo
platônico. Seus estudos profundos do platonismo, pitagorismo, do estoicismo e
do aristetolismo convenceram-no de que nem toda a verdade está contida na
filosofia e que ele precisava continuar inquirindo a verdade.
Vários
livros são atribuídos a Justino, porém somente três são aceitos como genuínos.
São os denominados de Primeira Apologia, Segunda Apologia e o Diálogo com
Trifo, o judeu. Sua Primeira Apologia é dirigida ao imperador Antonino Pio, que
reinou de 138-161 d.C., aos seus filhos Lucius e Marco Aurélio, a todo o senado
romano e “a todos os romanos”. ASegunda Apologia é dirigida ao senado romano,
embora já tivesse sido alcançado pelaPrimeira. Os dois foram escritos para
contestar a perseguição. O Diálogo com Trifoconsta de uma conversa de dois dias
entre Justino e um douto judeu contemporâneo dele.
Foi
um dos homens mais competentes do seu tempo e um dos principais defensores da
Fé Cristã. Seus livros que ainda existem, oferecem informações valiosas sobre a
vida da Igreja nos meados do segundo século. Foi martirizado em Roma, no ano de
166
PAIS
POLEMISTAS
Diferentemente
dos apologistas do segundo século, que procuraram fazer uma explanação e uma
justificação racional do cristianismo para as autoridades, os polemistas
empenharam-se em responder os desafios dos falsos ensinos heréticos, condenando
veementemente esses ensinos e seus mestres.
Os
pais desse grupo não mediram esforços para defender a fé cristã das falsas
doutrinas surgidas fora e dentro da Igreja. Apesar de a maioria ter vivido no
Oriente, os grandes polemistas vieram do Ocidente:
IRINEU
(130-202 d.C.)
Oriundo
da Ásia Menor, em sua juventude foi discípulo de Policarpo, de acordo com
Eusébio de Cesáreia. Irineu escreveu a Florino, um ex-condiscípulo de
Policarpo, que apostatara tornando-se valentiniano: “Pois os estudos de nossa
juventude cresceram com nossa mente e se uniram a ele com tamanha firmeza, que
também posso dizer até o lugar em que o bendito Policarpo costumava se sentar e
discursar; e também suas entradas, suas saídas, o caráter de sua vida e a forma
de seu corpo, e suas conversas com as pessoas, e seu relacionamento familiar
com João, conforme costumava contar, bem como sua familiaridade com os que
haviam visto o Senhor. Também a respeito de seus milagres, sua doutrina, tudo
isso era contado por Policarpo, de acordo com as Sagradas Escrituras, conforme
havia recebido das testemunhas oculares da doutrina da salvação”. É considerado
o “príncipe dos teólogos cristãos”.
A
maior parte de sua obra desenvolveu-se no campo da literatura polêmica contra o
ensino gnóstico, que acreditava na existência de um mundo distinto de Deus. Sua
primeira obra,Adversus Haereses, título em latim que significa “Contra
Heresias”, escrita entre 182 e 188 d.C., salienta-se por sua habilidade,
moderação e pureza na apresentação do cristianismo, condenando os ensinos de
Marcião.
ORÍGENES
(185-254 d.C.)
Orígenes
foi o maior dos intérpretes alegóricos e o mais prolífico da antiguidade
cristã. A maior parte das informações sobre a vida de Orígenes pode ser
localizada no sexto livro da História Eclesiástica, de Eusébio de Cesáreia.
Nasceu em Alexandria, no Egito, onde foi aluno de Clemente, o que o faria
sucessor deste anos mais tarde. Ficou à frente da escola catequética por 28
anos, levando uma vida extremamente ascética e piedosa. Devido ao seu zelo,
interpretou literalmente o texto de Mateus 19.12, que diz: “Porque há eunucos
que assim nasceram do ventre da mãe; há eunucos que foram castrados pelos
homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos por causa do Reino dos céus.
Quem pode receber que o receba”, e mutilou-se a si mesmo.
Seu
pai Leônidas morreu martirizado em 202, o que fez com que ele sentisse o mesmo
sentimento, a ponto de dizer ao pai que se encontrava preso: “Não vás mudar de
ideia por causa de nós”. Em 212 esteve em Roma, Grécia e Palestina. A mãe do
imperador Alexandre Severo, Júlia Maméia, chamou-o a Antioquia para ouvir suas
lições. Morreu em Cesáreia durante a perseguição do imperador Décio.
A
produção literária de Orígenes foi enorme. Segundo estimativa, ele foi o autor
de seis mil pergaminhos. Uma vez que seus conhecimentos bíblicos eram enormes e
estava consciente de que o texto das Escrituras continha ligeiras variantes,
compôs a “Hexapla”, uma obra monumental de erudição bíblica que não foi
conservada na íntegra.
CIPRIANO
(200-258 d.C.)
Thascius
Cecilius Cyprianus era de família nobre e influente de Cartago. Converteu-se ao
cristianismo em 246 d.C., sendo posteriormente eleito bispo em sua cidade
natal, por volta de 249 d.C. Exerceu um ministério pastoral influente
produzindo vários escritos antes de ser perseguido e decapitado nos dias do
imperador Valeriano.
As
principais obras de Cipriano são: Tratado Sobre a Unidade da Igreja e Dos
Caídos, escrito em 251 d.C., enviadas aos confessores romanos da fé. De habitu
virginum (249 d.C.), De mortalitate (252 d.C.), De opere et eleemosnynis (252
d.C.) e uma coleção de cartas. Algumas de suas obras são revisões dos escritos
de Tertuliano, a quem Cipriano chamava de mestre.
AGOSTINHO
DE HIPONA (354-430)
O
Protestantismo e o Catolicismo Romano tributam honra à contribuição que Agostinho
deu à causa do cristianismo. Polemista capaz, pregador talentoso, administrador
episcopal competente, teólogo notável, ele criou uma filosofia cristã da
história que em sua essência, continua válida até hoje. Vivendo num tempo em
que a velha civilização clássica parecia sucumbir diante dos bárbaros,
Agostinho se posicionou entre dois mundos, o mundo clássico e o novo mundo
medieval. Para ele, os homens deveriam olhar adiante para a “Cidade de Deus”,
uma civilização espiritual, uma vez que a velha civilização clássica estava
passando.
Agostinho
nasceu em 354, na casa de um oficial romano na cidade de Tagasta, ao norte da
África. Sua mãe, Mônica, dedicou a vida à sua formação e conversão à fé cristã.
Em 386, aconteceu sua crise de conversão. Um belo dia, meditando num jardim
sobre a sua situação espiritual, ouviu uma voz próxima à porta que dizia: “Tome
e leia”. Agostinho abriu sua Bíblia em Romanos 13.13-14.
Essa
leitura trouxe-lhe a luz que sua alma não havia conseguido encontrar nem no
maniqueísmo nem no neoplatonismo. Separou-se de sua concubina e abandonou sua
profissão de retórica. Sua mãe que tanto orara por sua conversão, morreu logo
depois do seu batismo. De volta a Cartago, foi ordenado sacerdote em 391. Cinco
anos depois foi consagrado bispo de Hipona. Daí até sua morte, em 430, dedicou
sua vida à administração episcopal, estudando e escrevendo. Ele é apontado como
o maior dos pais da Igreja. Deixou mais de 100 livros, 500 sermões e 200
cartas.
Talvez
a obra mais conhecida de sua lavra sejam as Confissões, uma das maiores obras
autobiográficas de todos os tempos. Nas páginas dessa obra, Agostinho abre a
sua alma. O livro traz no primeiro parágrafo a citadíssima frase: “Tu nos
fizestes para ti e nosso coração não descansará enquanto não repousar em ti”..
Essa necessidade só foi preenchida por sua experiência da graça de Deus.
Agostinho
escreveu ainda tratados teológicos dos quais De Trinitate, sua obra sobre a
Trindade, é o mais importante . Agostinho escreveu também muitas obras
polêmicas para defender a fé dos falsos ensinos e das heresias dos
maniqueístas, dos donatistas e, principalmente dos pelagianos. Sua De
Haeresibus é uma história das heresias.
Sua
grande obra apologética e sobre a qual reside sua maior fama, é o tratado De
Civitate Dei, popularmente conhecida como A Cidade de Deus (413-426). O próprio
Agostinho considerava ser essa sua grande obra. No período
entre Paulo e Lutero, a Igreja não teve mais ninguém da estatura moral e
espiritual de Agostinho.
PAIS
PÓS-NICENOS
Entre
os Concílios de Nicéia (325 e de Calcedônia (451, vários dos mais capazes Pais
da Igreja Cristã desempenharam seu minstério. Eles procuraram estudar a Bíblia
em bases científicas a fim de desenvolverem o seu significado teológico. Sem
dúvidas, Agostinho foi o maior deles.
Eles
seguiram a escola de Antioquia ou síria de interpretação, destacando o estudo
histórico-gramatical da Bíblia com intenção de descobrir o significado que o
escritor sagrado tinha em mente para aqueles a quem escreveu. Evitaram a
tendência alegorizante praticada pelos seguidores da escola alexandrina, que
seguiam o exemplo de Orígenes.
JOÃO
CRISÓSTOMO (347-407)
João,
chamado Crisóstomo devido à sua eloquência, logo depois de sua morte, mereceu
literalmente o nome de “boca-de-ouro”. Nasceu por volta de 345 numa família
rica, da aristocracia de Antioquia. Sua mãe apesar de ter enviuvado aos 20
anos, recusou-se a casar de novo para poder se dedicar totalmente à educação do
filho. Crisóstomo foi aluno do sofista Libânio, amigo do Imperador Juliano.
Libânio instruiu-o bem nos clássicos gregos e na retórica, o que lhe deu as
bases para sua excelente oratória.
Por
algum tempo exerceu a advocacia, mas após seu batismo em 386, tornou-se monge.
Com a morte da mãe em 374, passou a viver uma vida ascética e bem rigorosa até
380. Nessa época viveu numa caverna de uma montanha perto de Antioquia. A saúde
debilitada o obrigou a abandonar o regime rigoroso. Ordenado em 386, pregou em
Antioquia alguns de seus melhores sermões até o ano de 398. Nesse ano foi
escolhido como patriarca de Constantinopla, posição que manteve até ser banido
em 404 pela Imperatriz Eudóxia, denunciada por ele por usar roupas
extravagantes e por colocar uma estátua de prata de si mesma próxima a Santa
Sofia, onde ele pregava. Morreu no exílio em 407.
A
maioria de suas homilias ou sermões se constituem em exposições das Epístolas
de Paulo. Por não conhecer o hebraico, não fez uma investigação crítica dos
textos do Antigo testamento. Mas destacou a importância do contexto e procurou
descobrir o sentido literal dado pelo autor e fazer uma aplicação prática desse
sentido aos problemas das pessoas de sua época. Essas aplicações morais
práticas do evangelho eram marcadas por grande integridade moral. Para ele não
deveria haver divórcio entre moral e religião; a cruz e a ética devem caminhar
juntas. Não é por acaso que ele foi e continua sendo um dos maiores oradores
sacros que a Igreja Oriental já teve.
TEODORO DE
MOPSUÉSTIA (350-428)
Outro
notável pai da Igreja da Mopsuéstia. Ele estudou a Bíblia com Diodoro de Tarso.
Essa ótima instrução foi possível por ter nascido de família rica. Ordenado
presbítero em Antioquia em 338, tornou-se bispo da Mopsuéstia, na Cilícia em
torno de 392. Teodoro foi chamado apropriadamente de "o príncipe dos
exegetas antigos". Ele se opôs ao sistema alegórico de interpretação e
propôs uma compreensão que levasse em conta a gramática e a formação histórica
do texto, a fim de descobrir o sentido que o autor quis dar. Deu atenção
especial ao contexto imediato e remoto do texto. Esse método fez dele um
comentarista e teólogo dos mais competentes. Teodoro escreveu comentários sobre
livros da Bíblia como as cartas aos colossenses e aos tessalonicenses. Tanto
ele como Crisóstomo enriqueceram notavelmente a interpretação da Bíblia no seu
tempo. A obra de ambos contrastava com as forçadas interpretações da Bíblia
geradas pelo uso do método alegórico de interpretação.
EUSÉBIO
DE CESARÉIA (260-340)
Um
dos pais da Igreja mais amplamente estudados é Eusébio de Cesaréia, merecedor
do título de pai da História da Igreja quanto Heródoto o é do título de pai da
História. Depois de receber uma boa instrução por parte de Panfílio em
Cesaréia, ajudou a amigo a organizar sua biblioteca nessa cidade. Eusébio era
estudante interessado e lia tudo o que pudesse ajudar em suas pesquisas. Ele se
serviu tanto da literatura profana quando da sacra.
Tinha
um espírito refinado e cordato e detestava querelas suscitadas pelas heresia
ariana. Tomou um lugar de honra ao lado de Constantino no Concílio de Nicéia e,
como ele, preferiu uma solução de reconciliação entre os partidos de Atanásio e
Ário. Foi o Credo de Cesaréia, escrito por Eusébio de Cesaréia, que o Concílio
de Nicéia modificou e aceitou.
Sua
maior obra literária é a História Eclesiástica, um panorama da história da
Igreja dos tempos apostólicos até 324. Seu propósito era fazer um relato das
dificuldades passadas da Igreja, ao fim desse longo período de luta e começo de
uma história de prosperidade. A obra continua sendo útil até hoje, uma vez que
Eusébio teve acesso à excelente biblioteca de Cesaréia e dos arquivos
imperiais.
Eusébio
é até hoje nossa melhor fonte sobre a história da Igreja durante os três
primeiros século de sua existência, a obra tem sido de inestimável valor para a
Igreja ao longo dos séculos.
JERÔNIMO
(331-420)
Jerônimo,
natural de Veneza, foi batizado em 360 e durante vários anos dedicou-se aos
estudos, viajando por Roma e pelas cidade da Gália. Na década seguinte visitou
Antioquia e adotou a vida monástica, ocasião em que aprendeu o hebraico. Em
382, tornou-se secretário de Dâmaso, bispo de Roma, que lhe sugeriu a
possibilidade de fazer uma nova tradução da Bíblia. Em 386, Jerônimo foi para a
Palestina e lá, graças à generosidade de Paula, uma rica senhora romana a quem
tinha ensinado hebraico, viveu num retiro monástico em Belém por quase 35 anos.
A
maior obra de Jerônimo foi uma tradução latina da Bíblia conhecida como
Vulgata. Antes de 391, ele tinha completado a revisão do Novo Testamento latino
cuidadosamente cotejado com o grego. A versão da Bíblia feita por Jerônimo tem
sido amplamente usada pela Igreja Ocidental e foi, até recentemente, a única
Bíblia oficial da Igreja Católica Romana desde o Concílio de Trento.
Jerônimo
foi também um exímio comentarista, tendo escrito muitas comentários que são
usados até hoje. Sua grande dedicação e seu enorme conhecimento dos clássicos ajudaram-no
na interpretação das Escrituras, embora nos últimos anos de sua vida
desaprovasse o saber clássico.
AMBRÓSIO
(339-397)
Ambrósio
demonstrou grande capacidade nos campos da administração eclesiástica, pregação
e teologia. Seu pai ocupara o alto cargo de prefeito da cidade da Gália, e sua
família procedente dos altos círculos imperiais de Roma, proporcionou-lhe uma
formação na área jurídica, pretendendo que ele se voltasse para a carreira
política. Alcançou logo o cargo de governador imperial da área em torno da
cidade de Milão. Com a morte do bispo de Milão em 374, o povo pediu
unanimemente a sua ascensão ao cargo. Crendo ser este um chamado de Deus, ele
aceitou o cargo, distribuiu seus bens aos pobres, tornou-se bispo e começou a
estudar intensamente a Bíblia e teologia.
Ambrósio
provou ser um administrador ousado e capaz na condução dos negócios da Igreja.
Levantou-se contra as poderosas facções arianas e não hesitou em se opor ao
imperador Teodósio. Em 390 ou 391, Teodósio reuniu o povo de Tessalônica, cujo
governador fora assassinado, numa praça da cidade e ordenou o massacre deles.
Quando ele veio a igreja tomar a ceia, Ambrósio recusou-se a admiti-lo na
comunhão até que ele humilde e publicamente, se arrependesse desse ato.
Ambrósio
foi também um teólogo de grande talento, embora só tenha estudado teologia
depois de ordenado bispo.
ARISTIDES
DE ATENAS († 130)
Foi
um dos primeiros apologistas cristãos; escreveu a sua Apologia ao imperador
romano Adriano, falando da vida dos cristãos.
HERMAS
(†160)
Era
irmão do Papa Pio I, sob cujo pontificado escreveu a sua obra Pastor. Suas
visões são de estilo apocalíptico.
HIPÓLITO
DE ROMA (160-235)
Discípulo
de santo Irineu (140-202), foi célebre na Igreja de Roma, onde Orígenes o ouviu
pregar. Morreu mártir. Escreveu contra os hereges, compôs textos litúrgicos,
escreveu a Tradição Apostólica onde retrata os costumes da Igreja no século
III: ordenações, catecumenato, batismo e confirmação, jejuns, ágapes,
eucaristia, ofícios e horas de oração, sepultamento, etc.
MELITO
DE SARDES (†177)
Foi
bispo de Sardes, na Lídia, um dos grandes luminares da Ásia Menor. Escreveu a Apologia,
dirigida ao imperador Marco Aurélio.
ATENÁGORAS
(†180)
Era
filósofo em Atenas, Grécia, autor da Súplica pelos Cristãos, apologia oferecida
em tom respeitoso ao imperador Marco Aurélio e seu filho Cômodo; escreveu
também o tratado sobre A Ressurreição dos mortos, foi grande apologista.
TEÓFILO
DE ANTIOQUIA (†APÓS 181)
Nasceu
na Mesopotâmia, converteu-se ao cristianismo já adulto, tornou-se bispo de
Antioquia. Apologista, compôs três livros.
HILÁRIO
DE POITIERS (316-367),
Foi
bispo de Poitiers, combateu o arianismo, foi exilado pelo imperador Constâncio,
escreveu a obra Sobre a Santíssima Trindade. Organizou a luta dos bispos
gauleses contra o arianismo. Foi exilado pelo imperador Constâncio, na Ásia
Menor, voltando para a Gália em 360, fazendo valer as decisões do Concílio de
Nicéia. É chamado o “Atanásio do Ocidente”. Escreveu as obras Sobre a Fé, Sobre
a Santíssima Trindade.
CLEMENTE
DE ALEXANDRIA (†215)
Seu
nome é Tito Flávio Clemente, nasceu em Atenas por volta de 150. Viajou pela
Itália, Síria, Palestina e fixou-se em Alexandria. Durante a perseguição de Sétimo Severo (203), deixou o Egito, indo para a Ásia Menor, onde morreu em
215. Seu grande trabalho foi tentar a aliança do pensamento grego com a fé
cristã. Dizia: “Como a lei formou os hebreus, a filo formou os gregos para
Cristo”.
CIPRIANO
(†258)
Cecílio
Cipriano nasceu em Cartago, foi bispo e primaz da África Latina. Era casado.
Foi perseguido no tempo do imperador Décio, em 250, morreu mártir em 258.
Escreveu a bela obra Sobre a unidade da Igreja . Na obra De Lapsis, sobre os
que apostataram na perseguição, narra ao vivo o drama sofrido pelos cristãos, a
força de uns, o fracasso de outros. Escreveu ainda a obra Sobre a Oração do
Senhor, sobre o Pai Nosso.
SANTO
ATANÁSIO (295-373)
nasceu
em Alexandria, jovem ainda foi viver o monaquismo nos desertos do Egito,onde
conheceu o grande Santo Antão(†376), o “pai dos monges”. Tornou-se diácono da
Igreja de Alexandria, e junto com o seu Bispo Alexandre, se destacou no
Concílio de Nicéia (325) no combate ao arianismo. Tornou-se bispo de Alexandria
em 357 e continuou a sua luta árdua contra o arianismo (Ário negava a divindade
de Jesus), o que lhe valeu sete anos de exílio. Gregório Nazianzeno disse dele:
“O que foi a cabeleira para Sansão , foi Atanásio para a Igreja.”
BASÍLIO
MAGNO (329-379)
Bispo
da Igreja, nasceu na Capadócia; seus irmãos Gregório de Nissa e Pedro. Foi
íntimo amigo de Gregório Nazianzeno; fez-se monge. Em 370 tornou-se bispo de
Cesaréia na Palestina, e metropolita da província da Capadócia. Combateu o
arianismo e o apolinarismo (Apolinário negava que Jesus tinha uma alma humana).
Destacou-se no estudo a Santíssima Trindade (Três Pessoas e uma Essência).
GREGÓRIO
NAZIANZENO (329-390)
Nasceu
em Nazianzo, na Capadócia, era filho do bispo local, que o ordenou padre; foi
um dos maiores oradores cristãos. Foi grande amigo de Basílio, que o sagrou
bispo. Lutou contra o arianismo. Sua doutrina sobre a Santíssima Trindade o fez
ser chamado de “teólogo”, que o Concílio de Calcedônia confirmou em 481.
GREGÓRIO
DE NISSA (†394)
Foi
bispo de Nissa, e depois de Sebaste, irmão de Basílio e amigo de Gregório
Nazianzeno. Os três santos brilharam na Capadócia. Foi poeta e místico; teve
grande influência no primeiro Concílio de Constantinopla (381) que definiu o
dogma da Trindade. Combateu o apolinarismo, macedonismo (Macedônio negava a
divindade do Espírito Santo) e arianismo.
CIRILO
DE ALEXANDRIA (†444)
Bispo
e doutor da Igreja, sobrinho do patriarca de Alexandria, Teófilo, o substituiu
na Sé episcopal em 412. Combateu vivamente o Nestorianismo (Nestório negava que
em Jesus havia uma só Pessoa e duas naturezas), com o apoio do papa Celestino.
Participou do Concílio de Éfeso (431), que condenou as teses de Nestório.
JERÔNIMO
(347-420)
Doutor
Bíblico – nasceu na Dalmácia e educou-se em Roma; é o mais erudito dos Padres
da Igreja latina; sabia o grego, latim e hebraico. Viveu alguns anos na
Palestina como eremita. Em 379 foi ordenado sacerdote pelo bispo Paulino de
Antioquia; foi ouvinte de Gregório Nazianzeno e amigo de Gregório de Nissa. De
382 a 385 foi secretário do Papa S. Dâmaso, por cuja ordem fez a revi da
ver latina da Bíblia (Vulgata), em Belém, por 34 anos. Pregava o
ideal de santidade entre as mulheres da nobreza romana (Marcela, Paula e
Eustochium) e combatia os maus costumes do clero. Na figura de Jerônimo
destacam-se a austeridade, o temperamento forte, o amor a Igreja .
BENTO
DE NÚRCIA (480-547)
Nasceu
em Núrcia, na Úmbria, Itália; estudou Direito em Roma, quando se consagrou a
Deus. Tornou-se superior de várias comunidades monásticas; tendo fundado no
monte Cassino a célebre Abadia local. A sua Regra dos Mosteiros tornou-se a
principal regra de vida dos mosteiros do ocidente, elogiada pelo papa S.
Gregório Magno, usada até hoje. O lema dos seus mosteiros era “ora et labora”.
O Papa Pio XII o chamou de Pai da Europa e Paulo VI proclamou-o Patrono da
Europa, em 24/10/1964.
MÁXIMO,
O CONFESSOR (580 - 662)
Nasceu
em Constantinopla, foi secretário do imperador Heráclio, depois foi para o
mosteiro de Crisópolis. Lutou contra o monofisismo e monotelismo, sendo preso,
exilado e martirizado por isso. Obteve a condenação do monotelismo no Concílio
de Latrão, em 649.
JOÃO
DAMASCENO (675-749)
Bispo
e Doutor da Igreja - É considerado o último dos representantes dos Padres
gregos. É grande a sua obra literária: poesia, liturgia, filo e apologética.
Filho de um alto funcionário do califa de Damasco, foi companheiro do príncipe
Yazid que, mais tarde o promoveu ao mesmo encargo do pai, ministro das
finanças. A um determinado tempo deixou a corte do califa e retirou-se para o
mosteiro de Sabas, perto de Jerusalém. Tornou-se o pregador titular da basílica
do Santo Sepulcro.
CARTA
ANÔNIMA
Didaquè
(ou Doutrina dos Doze Apóstolos)
É como um antigo catecismo, redigido entre os anos 90 e 100, na Síria, na
Palestina ou em Antioquia. Traz no título o nome dos doze Apóstolos. Os Pais da
Igreja mencionaram-na muitas vezes. Em 1883 foi encontrado um seu manuscrito
grego.
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