A obra
de Agostinho de Hipona é vastíssima. Abrange teologia, filosofia, política,
psicologia e pedagogia. Para ler algo sobre as contribuições deste grande
pensador nestas áreas do conhecimento e também ler uma breve biografia
clique AQUI.
Devemos
lembrar que ele se considerava um autêntico filho da Graça, Sua própria
conversão foi considerada por ele obra da Graça de Deus, que atendeu às orações
da mãe, e através da pregação de Ambrósio, iluminou sua mente para a verdade do Evangelho.
Vamos
aqui mergulhar, ainda que teremos de ser rasos pela brevidade do espaço, nas águas da profunda teologia agostiniana.
Uma obra a ser apreciada com particularidade é As Confissões , vamos à ela.
Uma obra a ser apreciada com particularidade é As Confissões , vamos à ela.
As
Confissões
Uma das
obras mais importantes, escrita em treze livros, entre os anos de 397 e 400 é mais
do que uma mera autobiografia, este livro lida com as emoções de um homem sentiu o poder da graça e do amor divinos o tirando do engano, da
angústia da vaidade e também dos falsos mestres que o influenciaram dantes da conversão.
O livro
tem pérolas de sabedoria e devoção e exalta a bondade divina em contraste com a
fraqueza e perversidade humana. São diversas sentenças em forma de oração que
se entrelaçam para formar este maravilhoso livro: Alguns trechos belos:
“Dai-me
o que ordenais, e ordenai-me o que quiserdes” (Da Quod Iubes et Iube Quod Vis)
"Que
exulte e prefira encontrar-te, nao te compreendendo, a não te encontrar,
compreendendo." Pg 23.
"...todas
as coisas são verdadeiras enquanto existem, e não há falsidade senão quando
pensamos existir o que não existe. (...) ...cada coisa se harmoniza, não só com
seu lugar, mas também com sua época." Pg 190.
"Entre a sabedoria que cria e a sabedoria criada, e entre a justiça que
justifica e a justiça que vem da justificação, existe a mesma diferença que há
entre a luz que ilumina e a luz refletida." Pg 374.
"Na eternidade, Deus antecede tudo; no tempo, a flor vem antes do fruto;
na intenção, vem o fruto antes da flor; quanto à origem, o som antes do
canto." Pg 392.
E pelo
Latim
Sero te
amavi, pulchritudo tam antiqua et tam nova, sero te amavi!
(Tarde
te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei!)
Noli
foras ire, in teipsum redi: in interiore homine habitat veritas.
(Não vá
fora, entra em ti mesmo: no homem interior habita a verdade.)
Credo
ut intelligam.
(Creio
para entender.)
Si
sapientia Deus est... verus philosophus est amator Dei.
(Se
Deus é sabedoria... o verdadeiro filósofo é amante de Deus.)
Non
intratur in veritatem, nisi per caritatem.
(Só se
entra na verdade pela caridade, através do amor.)
Ama et
quod vis fac.
(Ama e
faze o que queiras.)
Amor
omnia vincit.
(O amor
tudo vence.)
Nulla
potestas nisi a Deo.
(Todo
poder provém de Deus.)
Entre todas estas citações da obra, a parte que acredito ser mais profunda além de ser esteticamente
impecável . Aqui a citação completa, em português:
"Tarde
te amei, Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro de
mim, e eu lá fora, a te procurar! Eu, disforme, me atirava à beleza das formas
que criaste. Estavas comigo, e eu não estava em ti. Retinham-me longe de ti
aquilo que nem existiria se não existisse em ti. Tu me chamaste, gritaste por
mim, e venceste minha surdez. Brilhaste, e teu esplendor afugentou minha
cegueira. Exalaste teu perfume, respirei-o, e suspiro por ti. Eu te saboreei, e
agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me, e o desejo de tua paz me
inflama."
Antropologia
Agostinho
defendia ser humano como a união perfeita de duas substâncias, o corpo e
a alma. Agostinho não estava preocupado, como Platão e Descartes, em explicar
em detalhes a metafísica envolvida nesta união. Bastava para ele admitir que os
homens eram formados por duas substâncias metafisicamente distintas, sendo a
alma superior ao corpo. A alma nasce com o indivíduo humano e,
absolutamente, é uma específica criatura divina, como todas as demais.
Entretanto, Agostinho fica indeciso entre o criacionismo e o traducionismo,
isto é, se a alma é criada diretamente por Deus, ou provém da alma dos pais.
Certo é que a alma é imortal, pela sua simplicidade. Agostinho, pois,
distingue, platonicamente, a alma em vegetativa, sensitiva e intelectiva, mas
afirma que elas são fundidas em uma substância humana. A inteligência é divina
em intelecto intuitivo e razão discursiva; e é atribuída a primazia à vontade.
No homem a vontade é amor, no animal é instinto, nos seres inferiores cego
apetite.
A
antropologia agostiniana busca o ponto de vista do EU, através do
aprofundamento da história interior da vida, como também da busca da
individualidade através das situações afetivas/experiências vividas.
Segundo
ele, os conceitos de liberdade (libertas) e livre arbítrio (De libero arbitrio)
possuem significados diferentes e estão diretamente ligados ao conceito do
pecado original. O livre arbítrio indica a possibilidade de escolha entre o bem
e o mal. Já a liberdade é a plena submissão da vontade a Deus. O homem perdeu a
liberdade com o pecado original, dado que sua vontade fragilizada não mais
poderia submeter-se à vontade de Deus. Mas não perdeu o livre arbítrio, no
sentido de que permaneceu sua livre agência para o mal. Assim sendo, a única
possibilidade de reaver a liberdade, perdida no pecado original, estava dada na
graça sobrenatural, em sua ação regeneradora sobre a vontade. A rigor, a idéia
de liberdade é apresentada em três estágios em Agostinho. Em primeiro lugar,
antes do pecado original há a vontade como possibilidade de livre arbítrio, que
pode ou não pecar. Após a queda, a vontade perde a liberdade, sem perder o
livre arbítrio, e está fragilizada e não pode fazer o bem. A liberdade para
fazer o bem só existe com o auxílio da graça. Na eternidade, a liberdade é entendida
como plena submissão da vontade a Deus, não havendo mais possibilidade de
pecar.
Agostinho
Também defendia o Traducionismo, ou seja, As almas das crianças, junto
com seus corpos, são geradas por seus pais. A alma é um “ramo” (latim: tradux)
cortado da haste paterna e transplantado para formar uma videira independente.
Pecado
Original
Segundo
Agostinho, o pecado de Adão é herdado por todos os seres humanos.
Agostinho acreditava que o pecado original de Adão e Eva foi ou um ato de
estupidez ("insipientia") seguido de orgulho e desobediência a Deus
ou desde o o princípio um ato de orgulho . Agostinho acredita que, neste
momento, a natureza humana foi ferida pela concupiscência (ou libido), o que
lhes afetou a inteligência e a vontade além das afeições e desejos.
A
compreensão de Agostinho sobre as consequências do pecado original e da necessidade
da graça redentora se desenvolveu principalmente durante a controvérsia contra
Pelágio e seus discípulos Celéstio e Juliano de Eclano .
O ponto
de vista de que não apenas a alma humana, mas também seus sentidos foram
influenciados pela queda de Adão e Eva era ensinado por Agostinho .
Agostinho ensinava que na redenção, o corpo seria transformado e a
purificado pela ressurreição dos justos.
Trindade
Agostinho
, depois de muito tempo de reflexão, esforço e trabalho, chegou à conclusão que
nós, devido à nossa mente finita, nunca poderíamos compreender a dimensão
(infinita) de Deus somente com as nossas próprias forças e o nosso raciocínio.
Concluiu que a compreensão plena e definitiva deste grande enigma só é possível
quando, na vida eterna. Apesar de aceitar sua limitação ele impôs a si
mesmo um prodigioso trabalho intelectual para esclarecer alguns conceitos
importantes a respeito da doutrina da Trindade.
Agostinho
pressupôs como uma verdade bíblica que existe um só Deus que é Trindade, e que
o Pai, o Filho e o Espírito Santo são simultaneamente distintos e
co-essenciais, numericamente um quanto à substância:
O Pai,
o Filho e o Espírito Santo, isto é, a própria Trindade, una e suprema
realidade, é a única Coisa a ser fruída [una quaedam summa res], bem comum de
todos.Ele entendia que há é um só Deus, de quem, por quem e para quem
existem todas as coisas (Rm 11,36). Assim, o Pai, o Filho e o Espírito Santo
são, cada um deles, Deus. E os três são um só Deus. Para si próprio, cada um
deles é substância completa e, os três juntos, uma só substância. O Pai não é o
Filho, nem o Espírito Santo. O Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo. E o
Espírito Santo não é o Pai nem o Filho. O Pai é só Pai, o Filho unicamente
Filho, e o Espírito Santo unicamente Espírito Santo. Os três possuem a mesma
eternidade, a mesma imutabilidade, a mesma majestade, o mesmo poder. No Pai
está a unidade, no Filho a igualdade e no Espírito Santo a harmonia entre a
unidade e a igualdade. Esses três atributos todos são um só, por causa do Pai,
todos são iguais por causa do Filho e todos são conexos por causa do Espírito
Santo.
Em
resumo , sua formula da Trindade é: uma só natureza subsistindo em três
pessoas. Isso é o resumo do que a Igreja Verdadeira sempre creu no
decorrer dos séculos .
A Graça
A
Palavra Graça significa Favor Imerecido . Em termos jurídicos diante de
Deus não há mérito da parte do homem, uma vez que a diferença do homem para
Deus é infinita. Deus livremente determinou associar o homem à obra de sua
graça , fazendo com que o homem participasse na vida cristã, com mérito
diante de Deus.
O
Mérito que recebemos recebemos do que Cristo Angariou enquanto viveu aqui como
homem, sua obediência e sua devoção foram totais, sua morte foi o auge do seu
amor e o máximo de mérito que ele nos proporcionou de forma totalmente livre e
bondosa. Esse amor e este mérito , que Jesus nos oferece é gratuito e
recebido por meio da fé (Ef. 2.8,9)
"A
ação paternal de Deus vem em primeiro lugar por seu impulso, e o livre agir do
homem, em segundo lugar, colaborando com Ele, de sorte que os méritos das boas
obras devem-ser atribuídos à graça de Deus, primeiramente, e só em segundo
lugar ao fiel. O próprio mérito do homem cabe, aliás, a Deus pois suas boas
ações procedem, em Cristo, das inspirações do auxilio do Espírito
Santo." (Agostinho refutando Pelégio)
Dessa
forma, o homem ao se tornar filho adotivo de Deus e partícipe por graça da
natureza divina, torna-se co-herdeiro de Cristo, e apto para receber a herança
prometida da vida eterna
Etienne
Gilson resumiu de modo muito eficaz o pensamento agostiniano sobre as relações
entre a liberdade, a vontade e a graça, da seguinte forma: “Duas condições são
exigidas para fazer o bem: um dom de Deus que é a graça e o livre-arbítrio. Sem
o livre-arbítrio não haveria problemas; sem a graça, o livre arbítrio (após o
pecado original) não quereria o bem ou, se o quisesse, não conseguiria
realizá-lo. A graça, portanto , não tem efeito de suprimir a vontade, mas se
torná-la boa, pois ela se transformará em má. Esse poder de usar bem o
livre-arbítrio é precisamente a liberdade .
A
possibilidade de fazer o mal é inseparável do livre arbítrio, mas o poder de
não fazê-lo é a marca da liberdade. E o fato de alguém se encontrar
confirmado na graça, a ponto de não poder mais fazer o mal, é o grau supremo da
liberdade. Assim o homem que estiver mais completamente dominado pela graça de
Cristo será também mais livre: “ libertas vera est Chirsto service”
Agostinho
afirma que a eternidade é um nunc stans (um agora permanente) e o tempo é um
nunc transiens (um agora que passa).Ou seja , temos todo tempo do mundo para
apreciar esta face graciosa de Deus que agora se manifesta tão
gloriosamente na forma de salvação em Jesus o Cristo.
A produção literária de Agostinho é imensa. Ele escreveu 113 trabalhos, 224 cartas e mais de quinhentos sermões. Algumas das principais obras desse grande Mestre da Igreja são as seguintes:
Produção literária
A produção literária de Agostinho é imensa. Ele escreveu 113 trabalhos, 224 cartas e mais de quinhentos sermões. Algumas das principais obras desse grande Mestre da Igreja são as seguintes:
A Doutrina Cristã: Esta obra é um manual de exegese, composta de quatro livros.
A Trindade: Nesta obra, composta de quinze livros, Agostinho trata da doutrina da Trindade. Ele quer conhecer melhor a Deus para melhor adorá-lO.
Cidade de Deus: Nesta obra, composta de vinte e dois livros, Agostinho se torna o pioneiro ao apresentar um esboço de uma teologia da história.
Confissões: Esta obra é uma auto-biografia de Agostinho, escrita como uma oração a Deus. Agostinho conta sua vida, desde a infância até sua conversão, e depois passa a discorrer sobre alguns temas filosóficos e teológico.
Da graça e do livre arbítrio : Uma exposição sobre o arbítrio livre do ser humano. Para Agostinho, o livre - arbítrio, é um dom de Deus concedido às criaturas racionais, é um bem, pois Deus é o Bem Supremo e do Bem Supremo só deve originar-se o bem.
E por
fim
Que
este meu breve apanhado seja apenas um aperitivo , para que a algum interessado
possa desejar procurar mais sobre Agostinho, estou apenas indicando estes
temas que enriqueceram, graças a S. Agostinho, a filosofia, a teologia e a
doutrina da Igreja.
Fontes
http://www.ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/641/Agostinho_de_Hipona_quem_foi_e_como_contribuiu_para_o_correto_entendimento_das_doutrinas_cristas
ALTANER,
B; STUIBER, A. Patrologia – Vida e Doutrina dos Padres da Igreja. 2ª ed. São
Paulo: Editora Paulinas, 1972.
CÂMARA,
J.B. Apontamentos de História Eclesiástica. 3ª ed. Petrópolis: Editora
Vozes, 1957.
CRISTIANI,
M. Breve História das Heresias. São Paulo: Editora Flamboyant, 1962.
GOMES,
C.J. Antropologia dos Santos Padres. 3ª ed. São Paulo: Editora Paulinas, 1985.
JEDIN,
H. Nanual de História de 1ª Iglesia. Tomo II. Barcelona: Editora Herder, 1980.
DICIONÁRIO
DE FILOSOFIA. Pecado. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1982.
REALE,
G; ANTISERI, O. História da Filosofia Antiguidade e Idade Média. vol. 1.
Coleção História da Filosofia. São Paulo: Editora Paulinas, 1990.
V.V.A.A.
Nova História da Igreja – Dos Primórdios a São Gregório Magno. Vol. 1.
Coleção Nova História da Igreja. Petrópolis: Editora Vozes, 1966.
http://bereianos.blogspot.com.br/2015/03/a-teologia-de-santo-agostinho.html
http://teologia-vida.blogspot.com.br/2011/11/agostinho-de-hipona.html
http://www.teologiaocidental.com/teologica/teorias-tradicionais-sobre.pdf
Santo
Agostinho, O Livre Arbítrio. 2ª Edição Ed. Paulus. Pag. 18 e 19
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