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Ressignificando o sofrimento biblicamente. Lucas 24


 Na vida, todos nós enfrentamos desafios, dores e adversidades, pois isso faz parte da nossa jornada. Vamos  dividir essas dificuldades em três categorias distintas para que possamos compreendê-las melhor: as frustrações, os sofrimentos e os traumas. As frustrações são aquelas pequenas decepções cotidianas, que muitas vezes passam despercebidas. Já os sofrimentos são mais intensos e, por vezes, duradouros, deixando marcas profundas em nossa alma. E, por fim, os traumas são as feridas mais profundas que podem ser causadas por um impacto violento, seja ele físico ou emocional. São traumas na mente, traumas nos sentimentos, que podem causar transtornos difíceis de serem tratados. Essas cicatrizes podem acompanhar-nos por anos, às vezes por toda uma vida, afetando nossos relacionamentos e até mesmo nossa saúde mental. Por isso, é essencial que tenhamos cuidado e atenção aos traumas que enfrentamos, para não deixá-los nos dominar e nos levar à depressão ou, pior ainda, ao suicídio. 

A causa do trauma pode ser diversa: um luto, uma perda, uma humilhação, um pecado cometido, uma traição, uma desilusão, entre outros. O passado traumático pode aprisionar uma alma num estado de completo sofrimento e angústia.

 Não há outra maneira de superar um sofrimento persistente da alma sem uma ressignificação, ou seja, é preciso  dar um novo significado à dor, um significado à luz da Bíblia.

Ressignificar  é   dar um novo significado a um acontecimento. No caso do cristão, ele deve   compreender que  qualquer circunstância da vida tem um sentido e isto  vem de Deus, e é Nele que devemos buscar o significado.  É um exercício delicado mas que traz inúmeros benefícios. Um exercício que sara feridas.

   

O projeto de ressignificação

Pedagogicamente vamos dividir a ressignificação em três estágios. Para ilustrar esses pontos vamos usar  -   Lucas 24.13-27  

Temos que expor detalhadamente e honestamente o que sentimos.  É preciso abrir-se à Palavra de Deus para sermos confrontados e curados.  É preciso reinterpretar os fatos dolorosos sob a Luz do amor de Deus.

  Temos um ótimo exemplo disto na Bíblia. É um trecho longo, mas vale a pena lê-lo totalmente. Leia o texto aqui. 

13 E eis que, no mesmo dia, iam dois deles para uma aldeia que distava de Jerusalém sessenta estádios, cujo nome era Emaús. 14 E iam falando entre si de tudo aquilo que havia sucedido. 15 E aconteceu que, indo eles falando entre si e fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou e ia com eles. 16 Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o não conhecessem. 17 E ele lhes disse: Que palavras são essas que, caminhando, trocais entre vós e por que estais tristes?18 E, respondendo um, cujo nome era Cleopas, disse-lhe: És tu só peregrino em Jerusalém e não sabes as coisas que nela têm sucedido nestes dias? 19 E ele lhes perguntou: Quais? E eles lhe disseram: As que dizem respeito a Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; 20 e como os principais dos sacerdotes e os nossos príncipes o entregaram à condenação de morte e o crucificaram. 21 E nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel; mas, agora, com tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram. 22 É verdade que também algumas mulheres dentre nós nos maravilharam, as quais de madrugada foram ao sepulcro; 23 e, não achando o seu corpo, voltaram, dizendo que também tinham visto uma visão de anjos, que dizem que ele vive. 24 E alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro e acharam ser assim como as mulheres haviam dito, porém, não o viram. 25 E ele lhes disse: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! 26 Porventura, não convinha que o Cristo padecesse essas coisas e entrasse na sua glória? 27 E, começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.  

Esse texto é um perfeito exemplo de ressignificação. Vamos utilizá-lo na nossa abordagem. Jesus foi o primeiro a usar a reinterpretação para resolver conflitos e sofrimentos da alma.  Percebemos como nosso Mestre trata de um caso  bem  complicado, que  aqui inclui  luto, desespero, desilusão:   

1 - EXPOR A DOR. – A primeira coisa a fazer é não ocultar.  Não podemos apenas ocultar a dor. Veja:

Então, lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à medida que caminhais? E eles pararam entristecidos.  Lucas 24.13 

É importante entender que o passado é algo que não podemos mudar, mas podemos mudar a maneira como o interpretamos. Precisamos enfrentar o passado e encará-lo de frente, pois isso pode nos ajudar a perceber as lições que podemos aprender com as experiências que tivemos.

Um exemplo disso é quando Jesus percebeu que seus discípulos estavam tristes e desiludidos. Ele agiu com sabedoria e tato, fazendo com que eles falassem sobre a situação que os afligia. Esse tipo de tratamento é muito importante para lidar com as emoções negativas que podemos sentir em relação ao passado.

Algumas pessoas tendem a querer afastar a lembrança da dor, esquecer ou empurrar para baixo do tapete. No entanto, essa atitude não é saudável, pois a dor não some, ela apenas se transforma e pode aparecer em formas de doenças físicas ou mentais. Por isso, é importante lidar de uma vez por todas com o sofrimento reprimido.

Para isso, é necessário expor detalhadamente e honestamente o que sentimos. Isso pode ser difícil, mas é um processo importante para que possamos superar a dor do passado.   

Ele lhes perguntou: Quais?  E explicaram: O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo, e como os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram.
Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam... Lucas 24.19-21

Jesus tocou na ferida, ele queria mais detalhes do sofrimento pelo qual os discípulos passavam. Um exame honesto precisa de informações precisas e detalhadas da nossa consciência.  Para expor com clareza o motivo da dor é preciso olhar de novo, com interesse para ver as sutilezas das emoções envolvidas.

Se apenas citarmos de relance o que nos ocorreu, se não expusermos claramente nossas expectativas frustradas, nossos medos, nossas falhas, nossas culpas, nossas ansiedades e dúvidas não haverá tratamento para nos ajudar. Se não formos  visceralmente honestos em nossa avaliação do passado é  impossível tratar do problema, pelo contrário, é bem capaz de criarmos ainda outro.  

 

2 -  ABRIR-SE À PALAVRA .  É preciso abrir-se à Palavra de Deus para sermos confrontados e curados. 

 Então, lhes disse Jesus: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras. Lucas 24.25-27

 Se tivermos medo de ser corrigidos ou julgados pelos nossos atos, nunca seremos restaurados. Assim como Jesus foi duro e incisivo com a incredulidade dos discípulos, o pecado também deve ser confrontado, mesmo que seja difícil e vergonhoso. É fundamental encarar nossas fraquezas de frente e nomear o pecado que causou o trauma e o sofrimento, sem esconder ou diminuir sua importância.

A Palavra de Deus pode reabrir a ferida infectada, limpar e curar, mas esse processo pode ser doloroso. Por exemplo, se alguém perdeu um amigo e murmurou contra o Senhor, é necessário confessar, pedir perdão e reconhecer a falha de murmuração. Não adianta apenas pensar que "Deus perdoa nossos momentos de dor", pois devemos nos achegar ao Senhor com humildade e solicitar o perdão.

 

Se alguém foi ferido e magoado por outra pessoa, causando dor até hoje, é preciso confessar a própria falha e fraqueza de não perdoar o ofensor. Pedir ajuda a Deus para ser perdoado também é importante para evitar que a mágoa envenene a vida. Não deixe que a dor do passado domine o presente, é preciso tratá-la de maneira honesta e transparente.

 

3 - REINTERPRETAÇÃO AMOROSA.  Reinterpretar os fatos à Luz do amor de Deus. 

Esse é o ponto crucial do tratamento bíblico. Aqui graça restauradora atinge o clímax da transformação. Aqui é o ponto que reinterpretarmos os fatos à Luz do Amor de Deus e entendemos que tudo que o Senhor faz é  para o bem dos seus filhos. Ele nos ama e sempre fará com que tudo coopere para nossa edificação espiritual. Isso ajuda a lidarmos com situações difíceis  e complexas.

Muitos sofrimentos nos advém como correção por direções erradas que tomamos na jornada. Deus, pelo seu infinito amor, quer o nosso melhor, quer nos ensinar algo com o sofrimento, sempre. Dois textos essenciais para lidar com isso:

 

E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.  Romanos 8.28

Pois o Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho.   Hebreus 12.6

 Com estes dois textos explicamos a maioria de nossos sofrimentos. Por mais que  o concordemos ou não consigamos aceitar, o passado não pode ser mudado. Ele está sempre ali, diante de nossos pensamentos. Lidar com ele não é opção, mas necessidade. É imprescindível que o cristão reescreva uma experiência  traumática, dando um novo entendimento, um significado emocional diferente, com base na vontade do Senhor revelada na Palavra. A situação mesmo, o fato que ficou no passado, não se altera, mas o modo como o compreendemos e o aceitamos sim, dando espaço para crescimento espiritual e emocional na nossa vida.   Isso nos ajuda a entender o amor de Deus por trás de toda a nossa história.

Se você já sabe como lidar bem com o seu passado e ressignificar suas experiências traumáticas biblicamente, então sugiro que compartilhe esse conhecimento com seus irmãos na igreja. Eles precisam aprender a associar o amor de Deus às suas experiências, mesmo as mais difíceis. Ajudá-los a lidar com seus traumas é uma forma importante de cuidado e apoio mútuo.

 

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