A
causa do trauma pode ser diversa: um luto, uma perda, uma humilhação, um pecado
cometido, uma traição, uma desilusão, entre outros. O passado traumático pode
aprisionar uma alma num estado de completo sofrimento e angústia.
Não
há outra maneira de superar um sofrimento persistente da alma sem uma
ressignificação, ou seja, é preciso dar um novo significado à dor, um significado
à luz da Bíblia.
Ressignificar
é dar um novo significado a um acontecimento. No caso do cristão,
ele deve compreender que qualquer circunstância da vida tem
um sentido e isto vem de Deus, e é Nele que devemos buscar o significado.
É um exercício delicado mas que traz inúmeros benefícios. Um exercício que sara
feridas.
O
projeto de ressignificação
Pedagogicamente
vamos dividir a ressignificação em três estágios. Para ilustrar esses pontos
vamos usar - Lucas 24.13-27
Temos
que expor detalhadamente e honestamente o que sentimos. É
preciso abrir-se à Palavra de Deus para sermos confrontados e curados. É
preciso reinterpretar os fatos dolorosos sob a Luz do amor de Deus.
Temos
um ótimo exemplo disto na Bíblia. É um trecho longo, mas vale a pena lê-lo
totalmente. Leia o texto aqui.
13 E eis que, no mesmo dia, iam dois deles para uma aldeia que distava de Jerusalém sessenta estádios, cujo nome era Emaús. 14 E iam falando entre si de tudo aquilo que havia sucedido. 15 E aconteceu que, indo eles falando entre si e fazendo perguntas um ao outro, o mesmo Jesus se aproximou e ia com eles. 16 Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o não conhecessem. 17 E ele lhes disse: Que palavras são essas que, caminhando, trocais entre vós e por que estais tristes?18 E, respondendo um, cujo nome era Cleopas, disse-lhe: És tu só peregrino em Jerusalém e não sabes as coisas que nela têm sucedido nestes dias? 19 E ele lhes perguntou: Quais? E eles lhe disseram: As que dizem respeito a Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; 20 e como os principais dos sacerdotes e os nossos príncipes o entregaram à condenação de morte e o crucificaram. 21 E nós esperávamos que fosse ele o que remisse Israel; mas, agora, com tudo isso, é já hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram. 22 É verdade que também algumas mulheres dentre nós nos maravilharam, as quais de madrugada foram ao sepulcro; 23 e, não achando o seu corpo, voltaram, dizendo que também tinham visto uma visão de anjos, que dizem que ele vive. 24 E alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro e acharam ser assim como as mulheres haviam dito, porém, não o viram. 25 E ele lhes disse: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! 26 Porventura, não convinha que o Cristo padecesse essas coisas e entrasse na sua glória? 27 E, começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.
Esse
texto é um perfeito exemplo de ressignificação. Vamos utilizá-lo na nossa
abordagem. Jesus foi o primeiro a usar a reinterpretação para resolver
conflitos e sofrimentos da alma. Percebemos como nosso Mestre trata de um
caso bem complicado, que aqui inclui luto, desespero,
desilusão:
1
- EXPOR A DOR. – A primeira
coisa a fazer é não ocultar. Não podemos apenas ocultar a dor. Veja:
Então,
lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à
medida que caminhais? E eles pararam entristecidos. Lucas 24.13
É
importante entender que o passado é algo que não podemos mudar, mas podemos
mudar a maneira como o interpretamos. Precisamos enfrentar o passado e
encará-lo de frente, pois isso pode nos ajudar a perceber as lições que podemos
aprender com as experiências que tivemos.
Um
exemplo disso é quando Jesus percebeu que seus discípulos estavam tristes e
desiludidos. Ele agiu com sabedoria e tato, fazendo com que eles falassem sobre
a situação que os afligia. Esse tipo de tratamento é muito importante para
lidar com as emoções negativas que podemos sentir em relação ao passado.
Algumas
pessoas tendem a querer afastar a lembrança da dor, esquecer ou empurrar para
baixo do tapete. No entanto, essa atitude não é saudável, pois a dor não some,
ela apenas se transforma e pode aparecer em formas de doenças físicas ou
mentais. Por isso, é importante lidar de uma vez por todas com o sofrimento
reprimido.
Para
isso, é necessário expor detalhadamente e honestamente o que sentimos. Isso
pode ser difícil, mas é um processo importante para que possamos superar a dor
do passado.
Ele
lhes perguntou: Quais? E explicaram: O que aconteceu a Jesus, o Nazareno,
que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o
povo, e como os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para
ser condenado à morte e o crucificaram.
Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois
de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam... Lucas
24.19-21
Jesus
tocou na ferida, ele queria mais detalhes do sofrimento pelo qual os discípulos
passavam. Um exame honesto precisa de informações precisas e detalhadas da
nossa consciência. Para expor com clareza o motivo da dor é preciso olhar
de novo, com interesse para ver as sutilezas das emoções envolvidas.
Se
apenas citarmos de relance o que nos ocorreu, se não expusermos claramente
nossas expectativas frustradas, nossos medos, nossas falhas, nossas culpas,
nossas ansiedades e dúvidas não haverá tratamento para nos ajudar. Se não
formos visceralmente honestos em nossa avaliação do passado é
impossível tratar do problema, pelo contrário, é bem capaz de criarmos ainda
outro.
2
- ABRIR-SE À PALAVRA . É
preciso abrir-se à Palavra de Deus para sermos confrontados e curados.
Então, lhes disse Jesus: Ó néscios e tardos de
coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não
convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por
Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito
constava em todas as Escrituras. Lucas
24.25-27
Se tivermos medo de ser corrigidos ou julgados
pelos nossos atos, nunca seremos restaurados. Assim como Jesus foi duro e
incisivo com a incredulidade dos discípulos, o pecado também deve ser
confrontado, mesmo que seja difícil e vergonhoso. É fundamental encarar nossas
fraquezas de frente e nomear o pecado que causou o trauma e o sofrimento, sem
esconder ou diminuir sua importância.
A
Palavra de Deus pode reabrir a ferida infectada, limpar e curar, mas esse
processo pode ser doloroso. Por exemplo, se alguém perdeu um amigo e murmurou
contra o Senhor, é necessário confessar, pedir perdão e reconhecer a falha de
murmuração. Não adianta apenas pensar que "Deus perdoa nossos momentos de
dor", pois devemos nos achegar ao Senhor com humildade e solicitar o
perdão.
Se
alguém foi ferido e magoado por outra pessoa, causando dor até hoje, é preciso
confessar a própria falha e fraqueza de não perdoar o ofensor. Pedir ajuda a Deus
para ser perdoado também é importante para evitar que a mágoa envenene a vida.
Não deixe que a dor do passado domine o presente, é preciso tratá-la de maneira
honesta e transparente.
3
- REINTERPRETAÇÃO AMOROSA. Reinterpretar
os fatos à Luz do amor de Deus.
Esse
é o ponto crucial do tratamento bíblico. Aqui graça restauradora atinge o
clímax da transformação. Aqui é o ponto que reinterpretarmos os fatos à Luz do
Amor de Deus e entendemos que tudo que o Senhor faz é para o bem dos seus
filhos. Ele nos ama e sempre fará com que tudo coopere para nossa edificação
espiritual. Isso ajuda a lidarmos com situações difíceis e complexas.
Muitos
sofrimentos nos advém como correção por direções erradas que tomamos na
jornada. Deus, pelo seu infinito amor, quer o nosso melhor, quer nos ensinar
algo com o sofrimento, sempre. Dois textos essenciais para lidar com isso:
E
sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam
a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Romanos
8.28
Pois
o Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu
filho. Hebreus 12.6
Com
estes dois textos explicamos a maioria de nossos sofrimentos. Por mais
que o concordemos ou não consigamos aceitar, o passado não pode ser
mudado. Ele está sempre ali, diante de nossos pensamentos. Lidar com ele não é
opção, mas necessidade. É imprescindível que o cristão reescreva uma
experiência traumática, dando um novo entendimento, um significado
emocional diferente, com base na vontade do Senhor revelada na Palavra. A
situação mesmo, o fato que ficou no passado, não se altera, mas o modo como o
compreendemos e o aceitamos sim, dando espaço para crescimento espiritual e
emocional na nossa vida. Isso nos ajuda a entender o amor de Deus por
trás de toda a nossa história.
Se você já sabe como lidar bem com o seu passado e
ressignificar suas experiências traumáticas biblicamente, então sugiro que
compartilhe esse conhecimento com seus irmãos na igreja. Eles precisam aprender
a associar o amor de Deus às suas experiências, mesmo as mais difíceis.
Ajudá-los a lidar com seus traumas é uma forma importante de cuidado e apoio
mútuo.
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